ALTAS HABILIDADES | SUPERDOTAÇÃO

Como lidar com as diferenças?

Por Julia M. Copatti, 12 anos

Dona Fabiola e sua filha, Ana Clara, mudaram de cidade e decidiram vir para Curitiba. Na primeira semana de adaptação, a mulher foi a várias entrevistas de emprego, porém, nenhuma das empresas aceitaram seu currículo.

Como Fabiola sempre teve o sonho de ensinar uma sala de aula, sua filha apoiou muito para que ela enviasse o currículo para uma escola perto do bairro onde elas moravam.

E assim ela fez. Passaram-se alguns dias, e logo a escola, a qual se chamava São Sebastião, contratou a mulher. Ela finalmente estava empregada!

Para os funcionários do colégio, São Sebastião oferecia uma bolsa de 50% de desconto em uma matrícula do primeiro ano ao nono no ensino fundamental. Então, Ana Clara, que iria para o sexto ano, começou a estudar na tão prestigiada escola.

No primeiro dia de aula, Ana quase perdeu o horário, mas felizmente conseguiu entrar na sala de aula. Quando ela chegou, notou logo de cara que toda a turma era dividida em grupinhos. Tinha os grupinhos dos nerds, das patricinhas, dos rebeldes, dos esportistas, dos brincalhões, entre outros. Ana se sentiu excluída. Ela não se encaixava em nenhum daqueles meros rótulos. E, por desventura do destino, ainda por cima não havia uma carteira sobrando para que a menina pudesse se sentar.

Enquanto isso, Fabiola estava na sala dos professores recebendo instruções da coordenadora pedagógica. Ela seria a professora de artes e daria aula para todas as turmas do período matutino. Coincidentemente ela acabaria sendo professora da sua filha. Talvez assim, ela poderia acompanhar de perto a vida colegial de Ana Clara, sempre mantendo o posto de professora, e não de mãe, dentro de sala de aula.

Quando o sinal bateu, Ana Clara não tinha com quem sentar na hora do recreio. Ela não havia feito amigos. Na verdade, muito pelo contrário, os alunos eram malvados e debochados com a garota. Faziam bullying e a julgavam. Tinham até dado um apelido: “a estranha” ou “a calada”. Ela se sentia cada vez mais solitária no meio de tanta gente.

Felizmente a próxima aula seria a de sua mãe, que tinha se esforçado muito para conseguir aquele emprego. Quando os olhares de Ana e Fabiola se cruzaram, a menina que achava que não se encaixava ali, se sentiu muito mais aliviada. Mas a mãe de cara percebeu o desespero da filha, e não só isso. Também percebeu o quão separada era a turma do sexto ano. Eles nunca trabalhavam em grupos. Eram alunos individualistas que não se misturavam com qualquer pessoa.

Como ninguém, a não ser Ana Clara, conhecia a professora, Dona Fabiola propôs uma atividade. O nome da brincadeira era: o gato mia. Todos os alunos deveriam ficar em uma roda, e no meio, uma pessoa escolhida pela professora. A pessoa do meio, ficaria vendada e teria que girar e apontar para um aluno qualquer da roda. Esse aluno miaria, e a pessoa com a venda teria que adivinhar de quem era esse miado. Se ela adivinhasse, era a vez de quem miou ir para o centro da roda e assim continuava a brincadeira.

No começo, todos os alunos ficaram um pouco desconfiados, mas quando um garoto do grupinho dos rebeldes se vendou e foi para o centro da roda todos se divertiram muito. O menino então, apontou o dedo para Ana Clara e disse: “gato mia!”. Como a jovem não queria que o aluno rebelde percebesse que era ela, a menina forçou uma voz grave miando. Todos os alunos se surpreenderam e ficaram assustados, mas passou uns dois segundos e todos começaram a rir. Quem poderia imaginar que uma garotinha tão pequena conseguiria ter uma voz tão potente?

— É o Roberto?— o garoto perguntou, mas isso só vez com que gerasse mais e mais risadas. Não era como se os colegas de classe de Ana estivessem rindo dela. Eles estavam rindo com ela.

Quando a professora percebeu, todo mundo estava brincando com todo mundo, não se importando com as diferenças um do outro.

Porém, quando a brincadeira chegou ao fim, os grupinhos se formaram novamente, e Ana Clara se sentiu excluída mais uma vez.

A Professora Fabiola tinha de pensar em uma estratégia melhor.

No dia seguinte teria novamente aula de artes com a professora nova e todos os alunos estavam animados. Parece que ela passou uma boa impressão no primeiro dia.

A professora entrou em sala e todos se comportaram. Ela iria fazer um trabalho em grupo.

— Queridos alunos, hoje vocês terão que fazer um trabalho em grupo. Terão que criar um poema falando sobre amizade.

Todos estavam felizes, e já tinham juntado seus grupos.

—  Porém os grupos serão sortidos!

Ninguém entendia o porquê daquilo. Ninguém queria se juntar ao grupinho dos brincalhões nem  ao das patricinhas, pois sabiam que eles não ajudavam em nada no trabalho.

E para a infelicidade dos alunos, o sorteio havia misturado todos os grupos. Tinha nerd com esportista, rebelde com patricinha, popular com repetente e brincalhão. Isso não iria funcionar de jeito nenhum!

Ana Clara tinha ficado com um dos “piores” grupos de trabalho. Eram cinco alunos contando com ela. Carolina: a garota mais certinha e bem-arrumada do ensino fundamental; Luiz: um dos melhores alunos da sala em todas as notas do boletim; Vitor: fazia três esportes e ainda era muito popular; e Ricardo, que já tinha levado diversas advertências e algumas detenções. Como que  eles iriam trabalhar em equipe? Ainda mais Ana Clara que era considerada a esquisitona do fundão! Aquilo até estava parecendo um filme dos anos oitenta: clube dos cinco!

Eles não se davam bem. E justamente por ter tantas diferenças, eles não conseguiram escrever nem sequer uma linha do poema pedido pela professora.

Mas depois de tantas brigas e desentendimentos, Luiz, que precisava ter aquela nota, escreveu toda a poesia sozinho. Ele provavelmente mentiria para Dona Fabiola, dizendo que todos tinham ajudado

Quando chegou o final da aula a professora de artes pediu para cada grupo se apresentar. E surpreendentemente todos tinham alguma coisa para mostrar. Mas quando chegou a vez do grupo da Ana Clara, a professora logo percebeu o erro.

— Luiz, você escreveu o poema sozinho, certo?

O menino começou a gaguejar, como ela havia descoberto?

— Diferente das outras professoras, eu avalio vocês pelo seu processo. E pelo que eu vi, vocês ficaram a aula toda discutindo em vez de ter feito o trabalho conforme eu pedi.

— Professora, você vai nos dar zero?—  Carolina pergunta preocupada

— Não, Carol. Eu vou lhes fazer uma pergunta. O que vocês aprenderam com isso?

— Que temos muitas diferenças, professora. Não somos iguais— Vitor responde confiante.

—  Isso mesmo. Você nos colocou em um grupo nada a ver. Como podemos trabalhar juntos se não temos intimidade?—  dessa vez foi o Ricardo, o menino rebelde, que já esperava ir direto para a direção por ter retrucado a professora.

— Compreender que ninguém é igual torna o mundo melhor. Vocês têm muitas diferenças, mas, mesmo assim, tinham que trabalhar juntos para criar um poema. Como vocês, pelo menos, já sabem que não são iguais, na próxima aula quero um poema. E dessa vez um poema em grupo, e não individual.

Depois daquele dia, a turma ficou mais unida. Eles sabiam que eram diferentes, mas também sabiam que nem por isso tinham que se isolar ou separar toda a turma em grupos. Eles entendiam suas diferenças e semelhanças também. Sabiam que com todas as diferenças eles eram únicos. Eles não podiam ser classificados por rótulos.

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