Alto desempenho nas tarefas escolares, desenvolvimento cognitivo acima da média para a faixa etária, facilidade de aprendizado e rapidez na aquisição de conhecimento em uma área. Características como essas devem servir de sinal de alerta para professores e educadores em geral na observação dos seus estudantes, pois podem ser indicativos de superdotação. No Dia Internacional da Superdotação – celebrado em 10 de agosto – a Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE) destaca que reconhecer as altas habilidades é fundamental para o encaminhamento deste estudante para o atendimento educacional especializado e para suplementação, respeitando seus direitos, aprimorando suas potencialidades e contribuindo também para o seu desenvolvimento pessoal, como atestam pais e os próprios estudantes com superdotação.
“O estudante com AH/SD apresenta necessidades educacionais especiais. Ele precisa de apoios diferenciados por ter um ritmo de desenvolvimento atípico. É importante compreender isso para respeitar as diferenças e evitar que esses talentos fiquem na invisibilidade por não terem o seu potencial reconhecido e valorizado”, afirma a
psicóloga Andréia Panchiniak, coordenadora do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) de Santa Catarina, um dos dez centros de atendimento especializado da FCEE.
Aos quatro anos de idade, Juan Matheus Alves Meneses já lia, escrevia e interpretava textos na escola infantil, período em que demonstrava certa irritabilidade durante as aulas por já estar à frente do conteúdo. Esse comportamento levou sua mãe, Elienai Alves, a procurar atendimento especializado, no qual foi identificado Altas Habilidades, com ênfase na inteligência verbal e linguística, o que permitiu o desenvolvimento de outras habilidades, como a participativa e argumentativa. Atualmente, com 12 anos de idade, Juan anseia por desafios. “Ele conquistou a medalha de ouro na Olimpíada Nacional de Ciências, no ano passado, e ainda almeja participar da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. No início, encontramos muitos obstáculos, pois os colégios não tinham conhecimento das AH e faltavam profissionais especializados para encaminhar e orientar. Atualmente, temos um longo caminho a percorrer”, pontua Elienai.
Outro talento que desponta na área é Samuel Ramalho, de 7 anos, que atualmente está dedicado à escrita de um livro, um projeto pessoal que vem desenvolvendo ainda sem a intenção de publicação. Ele tem altas habilidades na área de linguagem. “Ele aprendeu a ler sozinho e vem se desenvolvendo na escrita. Tem bastante interesse em geografia também, gosta de pesquisar sobre os continentes e seus países”, conta a mãe, Denise Ramalho. Ele participa da Oficina de Atividades Exploratórias do NAAH/S no contraturno escolar. “Nos sentimos mais tranquilos pelo fato do Samuel estar em um espaço que ofereça atividades de áreas que são do seu interesse, pois ele sente necessidade de aprender além do que o currículo escolar oferece”, afirma. No atendimento especializado, o aprendizado vai além da área de interesse – o que é atestado pelos familiares. “Notamos que o Samuel vem trabalhando a questão do perfeccionismo, tendo a consciência de que por ele apresentar essas habilidades não significa que ele tenha que ser perfeito em tudo que faz e que errar faz parte do processo de aprendizagem”, complementa Denise.
A sensação de acolhimento que esses estudantes passam a ter por terem suas habilidades identificadas e por conviverem com semelhantes é destacada por Luiz Franco, pai da Betina, de 14 anos, que integra a oficina de artes do NAAH/S. “É um ambiente onde há um incentivo e um desenvolvimento para ela, onde entendem como ela pensa, o que ela faz e o que ela gosta. Percebemos o resultado prático disso no cotidiano, como ela tem se desenvolvido e melhorado em uma série de outras atividades”, afirma.
Betina conta que a identificação das suas altas habilidades a deixou mais tranquila em relação ao que sentia sobre o seu talento. “Eu estava sempre tentando mudar o meu traço, sempre tentando achar a melhor versão. Foi bom saber o porquê isso acontecia”, revela a adolescente, que valoriza o estímulo dos pais e dos professores. “Foi muito bom começar no NAAH/S e aprender a melhorar as técnicas, o que me faz querer continuar desenhando e a tentar outras coisas. É muito legal também ter contato com outras pessoas que têm altas habilidades em outras áreas e no ramo artístico. Lá a gente tem algo em comum. E é uma coisa que me faz muito bem”, diz a estudante.
Atendimento especializado contribui para o autoconhecimento
Para Lupo Kroll, estudante egresso da Oficina de Artes do NAAH/S, a identificação faz com que o aluno com altas habilidades perceba o potencial que tem e deixe de se perceber como um “erro”. “A importância dessa visibilidade é perceber que não existe uma perfeição que precise estar sempre sendo corrigida, como se fosse incompleta. Nós conseguimos produzir e inspirar muita gente quando somos vistos”, reforça.

Hellen Fortunato Mendonça, estudante da EEB Altamiro Guimarães, de Antônio Carlos, conta que, a partir das atividades educacionais especializadas, ela conseguiu desenvolver suas habilidades, mas, acima de tudo, pôde entender certos questionamentos que apresentava sobre situações que vivenciava. “Eu me via como diferente. Às vezes, até em dúvida sobre porque agia de uma determinada maneira”, afirma a adolescente, que participa da Oficina de Artes do NAAH/S. Neste ano, ela passou a integrar a Academia de Letras Mirim de Biguaçu por ter sido premiada em concurso literário promovido pela instituição. A oportunidade de relatar o que acontece no seu cotidiano e compartilhar experiências – para além do desenvolvimento das habilidades – é oferecida no Atendimento Educacional Especializado. “O nosso foco é que os estudantes se sintam livres para trabalhar também a questão emocional, porque se não trabalharmos bem o emocional dele, a gente não consegue trabalhar suas habilidades de forma correta”, explica Isabela Garcia Ferreira, professora do polo AH/SD da EEB Altamiro Guimarães.
Muitas vezes, os questionamentos dos alunos sobre suas particularidades e as diferenças com os outros estudantes geram desconforto na escola, por não sentirem-se compreendidos. Foi o que aconteceu com a estudante Bruna Gehlen do Amaral, de Bombinhas, quando cursava o sexto ano do Ensino Fundamental, antes de ter a sua superdotação acadêmica identificada. Bruna apresentava inquietude durante as aulas e demonstrava habilidade acima da média nas tarefas, e seus resultados causavam estranheza em alguns professores. “Ela chegava em casa todos os dias chorando. Aquilo tudo a angustiava, e ela não queria mais ir para a aula”, relembra Andreia Amaral, mãe de Bruna.
Segundo ela, foi a partir do atendimento especializado que Bruna pôde se entender melhor. “Ela começou a participar das oficinas e hoje a Bruna se reconhece como pessoa e reconhece a capacidade dela”, afirma. Bruna participou da Oficina Exploratória do NAAH/S em 2021. Dentre as atividades, desenvolveu o projeto de um jogo de tabuleiro envolvendo o tema “Vacinação” com o qual conquistou a segunda colocação da categoria “Jovem Estudante Inovador” do Prêmio Inovação Catarinense – Professor Caspar Erich Stemmer entregue em junho deste ano pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc).
Desenvolvimento do potencial orienta futuro profissional
O adolescente Matheus Leal Scherer encontrou no atendimento especializado a indicação de um futuro promissor na área da tecnologia. Após conquistar Menção Honrosa nas Olimpíadas de Matemática por quatro anos consecutivos, ele teve sua superdotação identificada. Há quatro anos, ele participa da Oficina de Robótica
Educacional do NAAH/S. “Eu vim sem qualquer pretensão de carreira. Eu não tinha uma vocação. Quando eu descobri a robótica, senti que é isso que eu quero fazer na minha vida como profissão”, diz Matheus, hoje com 17 anos de idade.

O mesmo aconteceu com o jovem Rafael Martins da Rosa que atribui à sua formação na Oficina de Artes o encaminhamento da sua carreira profissional. “Se eu não tivesse tido a oportunidade de experimentar e testar até onde iam as minhas habilidades, eu nunca teria tido esse avanço na criatividade para hoje poder trabalhar com isso”, emociona-se o jovem egresso do NAAH/S, que, atualmente, atua como diretor de arte em uma empresa de marketing digital. Para ele, a suplementação educacional pode mudar a vida de muitas pessoas. “É um passo a mais para muita gente poder descobrir o potencial deles também”, avalia.
Onde encontrar
Confira os contatos do NAAH/S e dos polos de atendimento especializado em https://superdotacao.fcee.sc.gov.br/atendimento-especializado/